quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A estréia solo de Maurício Carrilho


Este é o primeiro artigo da série "Discoteca do Choro", onde comentarei os discos mais relevantes do gênero, sejam eles recentes ou antigos: o que vale para entrar na Discoteca é a importância histórica.




Maurício Carrilho: nome mais importante do Choro na atualidade.

Maurício Carrilho é, sem sombra de dúvida, o nome mais importante do Choro na atualidade, participando direta ou indiretamente de boa parte dos lançamentos ligados ao gênero. Além de excelente violonista, tem grande destaque também como compositor, arranjador, produtor, pesquisador e educador. Um gênio.
Maurício, muito mais que um simples chorão, é um defensor incansável da linguagem e da cultura do Choro.

Com a carreira iniciada em 1977, aos 20 anos, como integrante do grupo Os Carioquinhas (do qual também participavam os irmãos Raphael
e Luciana Rabello, e Celsinho Silva) Maurício manteve uma trajetória destacada e rica dentro da música brasileira. No entanto, o primeiro disco a levar apenas seu nome só saiu quando ele já contava mais de 20 anos de estrada.

Lançado no ano 2000 pela Acari Records, o CD "Maurício Carrilho" é um trabalho autoral, com músicas e arranjos do Maurício, e conta com o próprio no violão (ás vezes de 6, às vezes de 7 cordas) e mais um timaço de músicos: Luciana Rabello, Altamiro Carrilho, Celsinho Silva, Jorginho do Pandeiro, João Lyra, Jessé Sadoc, Pedro Aragão, Leonardo Miranda, Nailor Proveta, Hugo Pilger, Bernardo Bessler, entre outros.

São vários os motivos que fazem desse disco um novo capítulo na história do Choro, a começar pelas composições: Maurício acerta em cheio ao conseguir modernizar sem se desligar da tradição; é inovador sem a pretensão de querer reinventar a roda: apenas segue adiante e dá um passo além dos que já foram dados pelas gerações anteriores. Os arranjos e interpretações só vêm reiterar essa "modernidade tradicional", explorando formações diversas, às vezes expandindo os limites e possibilidades do consagrado formato de regional, e outras experimentando agrupamentos menos comuns, como um trio de saxofone tenor, flugelhorn e violão de 7 cordas (na valsa "Sinuosa"), ou um quarteto de violino, clarinete, cavaquinho e violão de 7 cordas (em "Um baile em Villa-Boa").
Além disso, o disco traz de volta à cena alguns gêneros muito importantes na formação da linguagem do Choro, mas que acabaram sendo negligenciados pelos compositores das últimas décadas, como o Schottish ("Luzeiro de Paquetá") e a Quadrilha ("Um baile em Villa-Boa").

Percebe-se também a preocupação de Maurício em agregar elementos de outros gêneros, como a música cubana, na faixa "Choro Cubano",
e também em retratar os personagens de seu tempo e de seu cenário musical. Com isso temos várias faixas dedicadas à outros músicos; é o caso de "Serenata pro Pilger" (dedicada ao violoncelista Hugo Pilger), "Proveta na madrugada" (para o clarinetista Nailor Proveta), "Leonardo na polca" (para o flautista Leonardo Miranda), "O turbante do Joel" (para o bandolinista Joel Nascimento), "Tio Tamiro na farra" (para o tio e flautista Altamiro Carrilho), "Um choro pra Anna" (à violonista e esposa Anna Paes) e "Lulu espinafrando" (para a cavaquinhista Luciana Rabello).
O encarte traz informações detalhadas de cada faixa e comentários do próprio Maurício sobre a composição de cada uma delas.

É um álbum obrigatório pra quem gosta de Choro, e aponta novos caminhos que o Maurício fez o imenso favor de desbravar pra gente. Imperdível!

E para não dizerem que eu só falei bem do disco, confesso que senti falta de duas coisas: maior participação do bandolim (só aparece em uma faixa) e aquela baixaria do 7 cordas mais destacada, "na cara".

Mas não deixe de ouvir!












Maurício Carrilho


com

Maurício Carrilho - violão, violão de 7 cordas, composições e arranjos

Altamiro Carrilho - flauta
Andréa Ernest Dias - flautim

Antônio Augusto - trompa

Arismar do Espírto Santo - baixo

Bernardo Bessler - violino

Celsinho Silva - pandeiro

Cristiano Alves - clarinete

Eliezer Rodrigues - tuba e bombardino

Hugo Pilger - violoncelo

Jessé Sadoc - trompete e flugelhorn
João Lyra - violão

Jorginho do Pandeiro - pandeiro e percussões

Leonardo Miranda - flauta
Luciana Rabello - cavaquinho
Marcelo Bernardes - flauta

Nailor Azevedo (Proveta) - clarinete e sax. tenor

Pedro Aragão - bandolim

Sérgio de Jesus - trombone

Ano: 2000
Gravadora: Acari Records


Faixas:

1. Serenata pro Pilger (choro)

2. Choro cubano (choro)

3. Sinuosa (valsa)

4. Proveta na madrugada (choro)

5,6,7,8 e 9. Um baile em Villa-Boa (quadrilha em 5 partes)
10. Leonardo na polca (polca)

11. O turbante do Joel (polca)

12. Luzeiro de Paquetá (schottish)
13. Tio Tamiro na farra (choro)

14. Um choro pra Anna (choro)

15. Lulu espinafrando (choro)


Cotação Quintal do Choro: ótimo

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Ouvindo Choro na internet


Uma das maiores dificuldades de se pesquisar sobre o Choro é encontrar em CD as gravações mais antigas. É incrível o descaso das gravadoras em relação ao gênero, e para se ter uma idéia da situação, basta dizer que Raphael Rabello, nome relativamente recente na história do Choro, ainda não teve toda sua discografia lançada em CD.

Além disso, muitas das reedições digitais de discos 78 rpm e LPs são mal-feitas, com encartes pobres e carentes de informações.

A grata exceção é a gravadora Revivendo, que traz um vasto catálogo com coletâneas de músicas lançadas originalmente em "bolachões" de 78 rpm, sempre com alta qualidade de som (as gravações originais recebem tratamento para limpar o forte ruído, típico do som dos discos antigos) e trazendo encartes ricos em informações.
A gravadora já lançou CDs com a obra de Chiquinha Gonzaga, Patápio Silva, Benedito Lacerda, Os Oito Batutas, e de outros nomes fora do Choro, como Ary Barroso e Luiz Gonzaga.

Nesse cenário, a Internet desponta mais uma vez como o meio mais democrático para a divulgação da cultura, sendo a melhor fonte onde encontrar as gravações mais antigas do Choro. Além dos programas de troca de arquivos (emule, bit-torrent, etc) e dos diversos blogs que disponibilizam música para download, uma ótima opção é o site do acervo do Instituto Moreira Salles.
O IMS reúne vários acervos de discos de 78 rpm, entre eles, os acervos de José Ramos Tinhorão e Mozart Araújo, e reúne mais de 100 mil músicas. Tudo isso está sendo digitalizado e disponibilizado para pesquisa e audição na internet. Então basta pesquisar a música que você procura e ouvir no próprio site.
É possível encontrar verdadeiras relíquias, como as gravações da Banda do Corpo de Bombeiros, regida por Anacleto de Medeiros, ou as primeiras gravações de Pixinguinha, no grupo Choro Carioca, tudo nos primeiros anos de 1900.
Imperdível!


Clique aqui para ir para o Acervo do IMS.