Esta é a primeira resenha da série Biblioteca do Choro, onde comentarei os principais livros ligados ao gênero. A exemplo da "Biblioteca", haverá também a Discoteca do Choro, com resenhas de discos, que já está sendo preparada.
Não há dados biográficos precisos sobre Alexandre Gonçalves Pinto: conhecido como "Animal", ele provavelmente viveu entre 1870 e 1940, era carteiro e músico amador, tocava violão e cavaquinho.
O nome do Animal ficou imortalizado por conta do livro que publicou em 1936: "O Choro - reminiscências dos chorões antigos". Narrado em primeira pessoa, é um livro de memórias, que fala sobre as pessoas, as festas, e os costumes que Alexandre vivenciou nos seus muitos anos de Choro.
Muitas características fazem de "O Choro" um livro único. Em primeiro lugar, é dos poucos documentos a falar sobre o ambiente do Choro no Rio de Janeiro no final do século XIX e começo do século XX, trazendo centenas de pequenas notas biográficas sobre os chorões do período, muitos dos quais provavelmente nunca saberíamos da existência não fosse o livro. Há espaço também para falar de nomes já famosos na época, como Joaquim Callado, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Anacleto de Medeiros, Luperce Miranda, Catulo da Paixão Cearense, etc. A linguagem é exagerada, sentimental e saudosista na maior parte do tempo.
Outra característica marcante do livro são os erros, tanto históricos como gramaticais; Alexandre conta, por exemplo, que Villa-Lobos tocava violino, quando na verdade tocava violoncelo e violão; também diz que o pai de Pixinguinha era um excelente flautista, coisa desmentida pelo próprio Pixinguinha; chega a afirmar que "a polka é como o samba - uma tradição brasileira"; enfim, os erros são inúmeros, mas deliciosos, pois acabam por transformar a narrativa numa conversa descontraída com o autor. É como sentar-se e ouvir as histórias de um velho chorão, sem cometer a indelicadeza de interrompê-lo mesmo quando se percebe que disse algo errado; somente ouvir e viajar nas memórias.
O livro começa com uma carta de Catullo da Paixão Cearense ao autor, datada de 28 de outubro de 1935. Ao que parece, o Animal pediu a Catullo para revisar e prefaciar o livro, coisa que não teria sido possível, conforme podemos constatar no primeiro parágrafo da carta publicada:

A esquerda, a capa da primeira edição de 1936; à direita, a capa da edição fac-similar da FUNARTE, de 1978: por dentro, tudo idêntico à primeira edição.
A boa notícia é que a Acari Records (gravadora especializada em Choro, criada por Maurício Carrilho e Luciana Rabello em 1999) promete uma nova edição para 2009.
Agora é esperar e correr pras livrarias!
Cotação Quintal do Choro: ótimo
O nome do Animal ficou imortalizado por conta do livro que publicou em 1936: "O Choro - reminiscências dos chorões antigos". Narrado em primeira pessoa, é um livro de memórias, que fala sobre as pessoas, as festas, e os costumes que Alexandre vivenciou nos seus muitos anos de Choro.
Muitas características fazem de "O Choro" um livro único. Em primeiro lugar, é dos poucos documentos a falar sobre o ambiente do Choro no Rio de Janeiro no final do século XIX e começo do século XX, trazendo centenas de pequenas notas biográficas sobre os chorões do período, muitos dos quais provavelmente nunca saberíamos da existência não fosse o livro. Há espaço também para falar de nomes já famosos na época, como Joaquim Callado, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Anacleto de Medeiros, Luperce Miranda, Catulo da Paixão Cearense, etc. A linguagem é exagerada, sentimental e saudosista na maior parte do tempo.
Outra característica marcante do livro são os erros, tanto históricos como gramaticais; Alexandre conta, por exemplo, que Villa-Lobos tocava violino, quando na verdade tocava violoncelo e violão; também diz que o pai de Pixinguinha era um excelente flautista, coisa desmentida pelo próprio Pixinguinha; chega a afirmar que "a polka é como o samba - uma tradição brasileira"; enfim, os erros são inúmeros, mas deliciosos, pois acabam por transformar a narrativa numa conversa descontraída com o autor. É como sentar-se e ouvir as histórias de um velho chorão, sem cometer a indelicadeza de interrompê-lo mesmo quando se percebe que disse algo errado; somente ouvir e viajar nas memórias.
O livro começa com uma carta de Catullo da Paixão Cearense ao autor, datada de 28 de outubro de 1935. Ao que parece, o Animal pediu a Catullo para revisar e prefaciar o livro, coisa que não teria sido possível, conforme podemos constatar no primeiro parágrafo da carta publicada:
"O prefacio que me pediste para teu livro, fica para outra vez. Não te posso ser util nas correcções dos erros, porque só uma revisão geral poderia melhoral-o, o que é impossível, depois de o teres quase prompto."E Catullo prossegue, já preparando o espírito do leitor:
"O leitor, porém, se deliciará com a sua leitura, fechando os olhos aos desmantelos grammaticaes, revivendo comtigo a historia desses chorões, que te ficarão devendo eternamente o serviço que lhes presta, arrancando-os do esquecimento. Só mesmo tu, com o teu grande coração, serias capaz de uma obra tão saudosa para os que, como eu, viveram naqueles tempos de immarcesciveis recordações."A primeira edição saiu em 1936, impressa pela Typografia Glória. A segunda só sairia 32 anos depois, em 1978, pela FUNARTE, em edição fac-similar à primeira, ou seja, uma cópia exata como uma xerox, sem revisões ou correções. As duas edições estão esgotadas, naturalmente, sendo um dos tesouros que colecionadores e pesquisadores buscam pelos sebos. Há exemplares nas principais bibliotecas do Rio, mas não sei se estão disponíveis para consulta, já que se trata de um livro raro. A edição que eu li foi a de 1978; encontrei-a por acaso na biblioteca de um grande amigo, o maestro Isaías Ferreira, o Zazá, e peguei emprestada.


A esquerda, a capa da primeira edição de 1936; à direita, a capa da edição fac-similar da FUNARTE, de 1978: por dentro, tudo idêntico à primeira edição.
A boa notícia é que a Acari Records (gravadora especializada em Choro, criada por Maurício Carrilho e Luciana Rabello em 1999) promete uma nova edição para 2009.
Agora é esperar e correr pras livrarias!
Cotação Quintal do Choro: ótimo
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